sexta-feira

Sem volta



Revisito amiúde o lugar
onde senti na pele o toque
de sentimentos guardados.
O banco que nos acolheu
na proximidade
é agora uma ruína que o vento beija
sem permissão.
Não tenho direito ao perdão
pelas ações impostas pela vida
e pelo receio de mim mesma,
mas sei
que te levaram
para não mais voltares.

terça-feira

Memórias














Lembras as pedras erguidas,
e o cheiro do tempo em cada folha?
Lembras os passos que partilhámos juntos
no estreito caminho, por entre as ruínas?
Lembras as palavras que escondemos
e os sentimentos que assassinámos dentro do peito?
Hoje, sombras há que não as nossas
mas continuo a ouvir-te gritar por mim
na leve brisa da madrugada,
e sou muda porque precisas,
e porque não mais encontro
vestígios de nós.

Alheamento

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Atravessei o campo de trigo
e deixei-me acariciar
pela brisa quente daquela tarde de verão.
De braços abertos,
segui o movimento das ondas douradas,
sentindo-me navegar,
alheada,
num mundo diferente,
docemente embalada pelo canto das cigarras.
Senti-me outra, ou eu mesma,
mas renovada
e dando novo sentido ao silêncio da minha alma.
Pé ante pé, percorri a seara
e os segredos guardados perderam a voz
tal como a água de julho,
que no rio
não faz barulho.

Nas asas do tempo
















Corro
nas asas do tempo.
A vida impõe-se 
como um tricô fértil de momentos,
de malhas caprichosas e fugidias.
Sinto esvoaçar o que me prende
aos trilhos que experimento,
mas sei hoje,
somos pássaros que se entregam a voos rasantes, 
e agulhas, são as horas que me separam do meu destino.
Tinham-me dito que recomeçado o caminho
não poderia voltar atrás,
e que chegada a hora me seriam cortadas as amarras.
Sim,
mas serei para sempre saudosa.  

Eternamente


Sei que estás aí.
Sempre.
Quando fecho os olhos,
quando respiro, quando sonho e sinto.
Branca,
doce,
paciente
e incomensuravelmente generosa
na recetividade incondicional à tinta.
És folha.
Quero-te, porque sei que serás presente e futuro,
porque sei que me esperas sem pressas,
sem perguntas,
sem desassossegos.
Sabes que chegará o dia em que te farei plural.
Sabes que carregarás segredos,
pensamentos, alegrias e tormentos.
Viverás para sempre da imaginação e abarcarás o mundo.
Serás Livro.
Eternamente.

Revolução














Os anos passam devagar.
E tão rapidamente, que nem damos por isso.
Mudamos.
Vamo-nos moldando e ajustando,
na inevitável resposta
aos desafios que se impõem.
Somos como lagos de água quieta,
que, ao sofrerem os impactos das gotas de chuva,
as fazem suas, e logo se transformam.
Somos a soma de danças circulares que se tocam
e nos obrigam a repensarmo-nos continuamente.
Uma revolução de ondas incessantes em busca,
afinal,
da essência que nos faz ser mais.

O meu eu















Entorpeci,
e num momento desmedido,
revelou-se o que sempre esqueço existir
o genuíno eu,
que vive escondido,
bem dentro de mim.
Revelou-se imenso, poderoso e sem controle.
Rebelde,  pelos  muros perpétuos,
destemido e sedento de trilhos desprovidos de correntes.
Sei, que sou frequentemente,
um invólucro destituído de mim.
O meu eu desprende-se, sem prometer regresso.
Sei que o descobrirei vezes sem fim.
Sempre que os momentos o ditem.
E sei que viverei perdendo-me,
em contínuo,
de mim.

quarta-feira

Destino

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Sigo a passo
Por entre a bruma.
Não hesito
embora não saiba para onde me levo.
Deixo correr o sangue
nas veias, rebelde
exigente,
abusando do meu coração
cansado e sem norte.
Respiro
a medo
ao passar por entre as folhagens.
Ouço o bater das asas
do beija-flor,
e o sussurro do vento norte
que ao acaso
trás o destino
escondido na palma da mão.

Conceção

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Nada digo
e nada faço,
em nada me vejo
e em nada me sinto.
Vivo assim,
numa luta abnegada
de nadas,
mas certo
de que o tudo que sou
concebe o tudo que quero.

terça-feira

Distorção













Sou existência
toldada,
involuntária e
desanimada.
Encarno
realidades
sobre descargas de luz,
na mistura de sensações percebidas
e recordadas.
Apreendo ao entardecer,
os lugares que vivi e os que vivo
numa distorção chamada saudade,
num engano dos sentidos,
que não me reverte,
não me legitima,
nem me devolve
ao ponto de partida.

segunda-feira

De folha em folha


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Saltito
de folha em folha
e refresco-me
em cada gota de orvalho.
Lanço-me sem medo
pelas nervuras afora
com uma alegria inquietante,
com uma esperança sem medo,
como se parar,
fosse morrer.

quarta-feira

O silêncio que grita














O raiar da madrugada
desponta lentamente
sem dar por nós.
Revolvo-me no quente dos lençois
e abraço o teu corpo quente,
aninhando-me no conforto da tua proximidade.
O silêncio grita o mel dos apegos,
as promessas mútuas,
os laços absolutos,
a fé depositada num momento,
sem princípio, sem fim.
O toque bastava-nos,
então.
Não sabiamos nós
que dele seríamos saudosos
eternamente.

segunda-feira

Tua

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Regresso
nua
dos gestos e falas
das recordações e pensamentos.
Sem arrependimento,
renasço
na que importa,
na que foi,
na que quer ser
novamente,
longe de tudo
mas perto da saudade,
do momento
em que descobri
ser tua.

quinta-feira

De volta

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Entre as nervuras dos atalhos,
em dia de nublina
fecho os olhos,
aperto as mãos junto ao peito,
e abandono-me
de regresso
à familiaridade dos cheiros,
da luz das velas,
do roçar das saias,
aos bosques verdes,
às paredes altas.
Quando te continha,
nos dias de nós,
que antecederam a eternidade.

segunda-feira

Esquecimento

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Regressa sem pedir licença
o toque que de leve me toca,
como se fosse uma crença,
nesta pele de fé oca.
Renasço
a cada sensação
com a determinação de aço
de quem enfrenta uma revolução.
Vivo assim.
Vivo agora.
Por esse mundo fora,
esquecendo-me de mim.

quarta-feira

Nenhuma

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Sou
dentro de mim
muitas gentes que fui
e que não recordo.
Gentes
que não me segredam
memórias,
nem lugares,
nem estados de alma.
Sou,
afinal,
a presente
que será esquecida
e nenhuma das que foram.

Sei-te

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Sei-te os dizeres
por entre o silêncio das palavras que guardas.
Vejo
as formas que imaginas
nas sombras dos sonhos que sonhas.
Ouço o restolhar
do que desejas em segredo
e que calas para ti mesmo.
Visito
os lugares escondidos
que descobres por entre suspiros
e adivinho
os passos que darias
se eu soubesse.

Nada


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Luto contra o vento
e contrario a resistência
do que se oferece
ímpar,
sem segredos,
sem credos.
Agradeço
a limpidez do tudo
que transporta cada sopro
e respondo com o nada que sou.

quinta-feira

Abraço




Penso-te
e sonho o abraço apertado
etéreo e intemporal
ausente das sensações do que é.
Ficamos
quietos,
silenciados pelo que poderia ter sido.
Fora do tempo e do espaço,
existimos.
Juntos.

sábado

Sou

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Guardo na mente
os movimentos do vento
e as marcas por onde o rio passou.
Vejo o alcance dos raios
do sol que brilha dentro,
e bate forte, o coração.
Espera o tempo que trará a tranquilidade
de saber ser mais,
mais de mim mesma,
mais de qualquer coisa
que me diga que sou.
Aqui ou em qualquer lugar.